APRENDENDO A DIVIDIR
cap. XXXI in: Razões para uma vida melhor. Ricardo O. Forni.
Você sabe dividir? Sabe mesmo? Vamos ver. Quanto é quatro
dividido por dois? Fácil, não é? E um milhão dividido por vinte? Continua mais
ou menos fácil. Um pouco mais de apelo para a memória e teremos o resultado.
Quando muito, passamos as mãos na calculadora e eis o resultado de uma forma
exata.
Mas a divisão que propomos não é essa tão fácil assim.
Falamos de outro cálculo. Suponhamos que num lote, em um pequeno pomar, existam
um pé de manga, outro de goiaba e, finalmente, um de caju. Você por acaso,
veria o pé de manga tirar do solo mais do que ele precisa para sobreviver?
Você veria as raízes do pé de caju buscar as raízes dos
outros dois pés de fruta para arrancar-lhes do solo e ficar sozinho no terreno?
Será que, alguma vez, encontraríamos o pé de manga tentando tampar o sol para
que os outros vegetais não pudessem se beneficiar da luz do astro-rei? É
evidente que não, não é mesmo? Cada planta retira do solo onde vive a quantia
exata do que tem necessidade para continuar a viver.
Adiantaria alguém respirar mais profundamente e mais vezes
para retirar do ar que respiramos uma quantidade maior de oxigênio do que o
vizinho? É claro que não, porque os nossos pulmões só utilizam a quantia exata
que consegue cada vez que o ar neles entra.
Emmanuel propõe, em uma página intitulada “Aprendamos a
dividir”, os seguintes ensinamentos:
Observemos a natureza.
O Sol divide com a
Terra os seus raios de amor, e a Terra lhe entesoura a energia, em favor do
progresso das criaturas.
A fonte divide as
águas, auxiliando a vegetação que, mais tarde, a protege.
A árvore divide os
frutos com os homens e os homens lhe estendem a espécie, através do espaço e do
tempo.
As flores dividem o
próprio néctar com as abelhas, e as abelhas lhes garantem abençoada fecundação.
Tuas horas e tuas
forças, conhecimentos e recursos, quaisquer que sejam, são concessões do
Todo-Compassivo em tuas mãos, que pode repartir com o próximo, a benefício de
ti mesmo.
Auxiliar alguém é
fazer o investimento da verdadeira alegria e toda alegria no exercício do bem é
dom de vida e luz que nos aproxima de Deus.
Aprendamos a dividir
os depósitos do Senhor, enquanto é hoje, a fim de que o Amparo Divino mais
intensamente nos envolva, enriquecendo-nos o Espírito para que venhamos a
receber com os outros e pelos outros a nossa perfeita felicidade de amanhã.
Como isso é difícil, não é? Quando se fala em dinheiro, em
posses materiais, em posições importantes na sociedade, em títulos de
enobrecimento do mundo, como radicalizamos posição e nos defendemos como se
fôssemos animais acuados de morte!
Quando Jesus visitava a aldeia de Betânia onde morava
Lázaro, o redivivo, retirado do estado de morte aparente (catalepsia) por
Jesus, e suas irmãs, Maria e Marta, o Mestre nos fala da importância da
aquisição dos bens espirituais e esquecimento dos valores materiais.
Estando ele no interior da casa dos três irmãos, Marta fica
preocupada com os afazeres da casa não prestando atenção aos ensinamentos dele.
Maria, por sua vez, dedica-se a ouvir Jesus. Marta vendo que a irmã não a
auxiliava nos deveres domésticos, interpela o Senhor dizendo: “Senhor, a ti não importa que a minha irmã
não me deixe sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude.”
Atentemos para a resposta dele: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no
entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito,
escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.” (Lucas 10:38-42).
Eis aí a advertência de Jesus sobre os valores do mundo,
sobre as nossas preocupações com as coisas do mundo.
Estaremos nós, como Marta, preocupados com os valores
materiais ou estaremos nos comportando como Maria, que atentava para os
ensinamentos de Jesus, sem se preocupar com os afazeres domésticos que podiam
esperar?
Quem já viu dinheiro em um caixão no velório? E títulos de
propriedade? E cargos importantes, perante os homens, são levados por aqueles
que partem?
Francisco de Assis pediu, quando pressentiu a própria
desencarnação, que o colocasse nu sobre o solo porque queria partir do mundo
exatamente como viera. Sem nada. Somente com os bens incorporados em sua alma
grandiosa de tanto doar. Doar até doer, como ensinava Madre Teresa de Calcutá.
Quantos homens não passam a vida colecionando valores que serão barrados pela
alfândega do túmulo!
É dessa divisão que falávamos no início. Sabemos fazê-la?
Nenhuma máquina inventada pela inteligência humana é capaz de realizá-la,
porque essa divisão é realizada no interior de cada um de nós.
Dividir nossa alegria com a tristeza alheia para essa
tristeza doa menos.
Dividir nosso tempo com a solidão alheia para que essa
solidão seja menos doída.
Dividir a alegria de ter um lar com aqueles que jazem
esquecidos sobre as sarjetas para que o chão não seja tão frio.
Dividir a saúde do corpo que nos abençoa a existência na
Terra com os doentes, para que eles sejam mais sãos na alma.
Essa foi a divisão ensinada e vivenciada por Jesus. Dividir
o agasalho que sobra no armário, dividir o alimento que não nos faz falta,
dividir o sapato esquecido no criado-mudo são divisões importantes, mas muito
fáceis de serem praticadas.
O difícil é dividir-se para que os outros sejam mais, mesmo
que nos sobre menos. Mais felizes, menos solitários, menos tristes, menos
esquecidos, menos ausentes de nossas vidas.
Você saber fazer essa divisão?