quinta-feira, 30 de abril de 2020

DOR SUFICIENTE



DOR SUFICIENTE


Um viajante saiu da cidade de São Paulo com destino a Ribeirão Preto e parou no meio do caminho para abastecer o carro. Quando ele desceu do carro para fazer o pagamento,  ele observou que havia um cachorro que gemia e uivava, resmungava e uivava.
Ele foi até a loja de conveniência, tomou um café, usou o toalete e saiu uns 20 minutos depois. Quando passou por aquele lugar, o cachorro ainda estava lá, gemendo e uivando.
Então, o viajante não se conteve e perguntou:
-- Por que este cachorro está uivando tanto ? O que está acontecendo com ele?
E o frentista respondeu:
-- E que ele está deitado em cima de um prego e deve estar machucando.
-- Mas então, se está machucando  por que ele não levanta e sai do lugar?
-- Por que a dor deve ser pouca, o suficiente para gemer e uivar, mas não tão intensa para ele tomar uma decisão e sair do lugar.
E assim acontece com muita gente que sofre. A dor é suficiente para reclamar, mas não tão intensa a ponto da pessoa fazer alguma coisa para melhorar.  Neste caso a verdadeira doença é espiritual, acomodação, falta de iniciativa, ignorância das leis divinas.

Quando Jesus pergunta ao cego Bartimeu: "O que queres que eu faça?" Na verdade, Ele estava perguntando: "Você já sofreu o suficiente para querer mudar?"
A dor tem uma função importante de preservação do organismo, indicando que há algo errado que precisa ser ajustado. A dor é pedagógica, é um marcador que indica a necessidade de descobrir e mudar alguma coisa; tanto no aspecto corporal como no aspecto moral.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

VERDADEIRA CONCILIAÇÃO


VERDADEIRA CONCILIAÇÃO

Aquela parecia ser mais uma simples audiência de conciliação, numa briga de trânsito, um homem havia agredido o outro.
O agressor, porém, não compareceu à audiência. Dessa forma, não pôde se formalizar um acordo entre as partes.
O juiz estava pronto para sentenciar, aplicando severa multa, quando a esposa do agredido pediu para falar.
Relatou a cena terrível que acontecera e que fora presenciada pela filha, de apenas sete anos.
Narrou a mãe que a menina estava em crise desde então. Chorava toda vez que o pai saía de casa, entrava em desespero, temendo que ele fosse novamente agredido.
Atendimento psicológico fora providenciado, desde algumas semanas sem nenhuma melhora.
Aquela esposa e mãe desejava somente que se tentasse uma outra audiência para que o agressor se desculpasse com o marido na frente da menina.
Era um pedido inusitado. O juiz pensou por alguns instantes e, compreendendo o sofrimento no coração materno, decidiu por marcar nova audiência.
Tudo poderia ter terminado ali, com uma multa, pois não havia ocorrido a conciliação entre as partes, mas o juiz preferiu ir adiante.
Chegando a data aprazada, tudo estava diferente. Dessa vez, ambas as partes compareceram. Foi sem titubear que o agressor abraçou o agredido e lhe pediu sinceras desculpas.
Explicou que estava muito atarantado no dia do pequeno problema no trânsito. Estendeu suas desculpas à esposa e ainda trouxe um pequeno presente para a menina.
Quinze dias depois, a mãe retornou ao Fórum e pediu para falar com o juiz.
O senhor salvou a minha filha! Ela está curada! – Disse com a voz embargada.
Contudo, o magistrado respondeu: Não fui eu. Foi a senhora. Eu jamais teria tido essa ideia. Possivelmente o processo teria terminado com a aplicação de uma multa ou qualquer outra penalidade mínima, visto ser infração de pequeno potencial ofensivo.
A senhora sim, salvou a sua filha. Fizemos aqui uma verdadeira conciliação.
                                                                                 *   *   *
Como nos pouparíamos de tantos sofrimentos, se nos esforçássemos para encurtar o caminho entre a ofensa e a reconciliação.
Na maioria dos casos, vemos a vingança surgir como solução imediata e tresloucada, levando ambas as partes a uma peleja que pode se estender por largo tempo.
Enlaçados pelo ódio destruidor através dos dias, dos anos, o método de ataque e vingançadar e tomar, vai se tornando cada vez mais complexo e difícil de ser resolvido.
Um dia, porém, o basta chega e vemos quanto tempo, quanta energia e quantas oportunidades foram perdidas em nome de uma suposta justiça.
Despertamos do pesadelo construído por nós mesmos e percebemos como tudo poderia ter sido mais simples, como tanto sofrer poderia ter sido evitado.
Assim, sempre pensemos antes de iniciar uma disputa, antes de tornar uma desavença algo mais grave. Vale a pena? Merecemos tanta aflição por causa desse mal?
Não importa de que lado está a culpa. Importa somente sabermos de que lado está a paz. Oxalá possa sempre ser do nosso.
Redação do Momento Espírita, com base em relato do Desembargador Jorge de Oliveira Vargas.



quinta-feira, 9 de abril de 2020

O QUE FICA, É O AFETO.


O QUE FICA, É O AFETO

Leila Ferreira, autora do Livro “A arte de ser leve”. Quando iniciou suas pesquisas para escrever este livro, entrevistou o grande estudioso da Universidade de Rotterdam na Holanda, que coordena o maior banco de dados do mundo sobre a felicidade, Dr. Ruutt Veenhoven, autor do conceito da “Teoria da felicidade interna bruta”, após apresentar a ela mais de 30 anos de levantamento de dados sobre a felicidade em diversos países, analisando gráficos e discutindo informações relevantes, no final da entrevista quando foram tomar um cafezinho, num papo informal ele lhe faz a revelação mais simples e mais significativa:  “Nada garante a felicidade, nem dinheiro, nem sucesso, nem saúde, nem  fama, nem beleza, nem juventude... “ Eu cheguei a conclusão que a coisa que mais nos aproxima, realmente da felicidade,  é a qualidade dos nossos relacionamentos pessoais. Quem tem bons relacionamentos pessoais tem mais chance de ser feliz. E ele falou uma frase: “Vive bem quem convive bem”. 

Como viver num mundo de violência, disputas, de ódios, viver em conflitos sem qualidade nos relacionamentos e querer ser feliz? 
Investir tudo no afeto, na qualidade da convivência, sendo pessoas melhores é o real segredo da felicidade. O amor não se pode economizar, empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro. É o que de fato importa, é o que o afeto. 
E ela conta que foi criada no interior de Minas na cidade de Araxá, numa família muito simples. Era a mais nova de 6 filhos que a mãe criou sozinha,  professora, trabalhava o dia inteiro e ela, a única mulher e a mais nova, era cuidada pelos irmãos enquanto a mãe trabalhava. 

E é claro, eles queriam ir tomar banho no córrego, jogar futebol, brincar, e tinha que levar a irmãzinha junto. Ela era pequena não conseguia andar muito e eles tinham que carregar aquele peso. 

Não havia carrinho naquele tempo, então eles pegaram um caixotinho de maçã, e colocaram rodinhas no caixote, improvisaram uma alça pra puxar, e assim levavam a irmã, pra todo lugar que iam, pro córrego onde nadavam, pro campinho de futebol... E mais, pra ela se proteger do sol, eles pegavam uma folha grande mamona e davam pra ela segurar, para fazer sombra no seu rosto. A folha de mamona murchava muito rapidamente, então eles iam trocando por outra.  

E isto é o que fica, ainda hoje, ela adulta, o que ficou na memória?  Foi o afeto destes irmãos que ficou, que nunca vai ser esquecido, é a maior riqueza, é a coisa mais grandiosa que não tem preço, que quando ela se lembra, a enche de felicidade, é o afeto que nos alimenta a alma.

Vídeo “Quarentena sem pirar” de Rossandro Klinjey e Leila Ferreira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=meh882K3Q3o

sábado, 4 de abril de 2020

O AMOR NOS TEMPO DO CÓLERA


O Amor nos Tempos do Cólera (texto esparso)


- Capitão, o menino está preocupado e muito inquieto   devido à quarentena que o porto nos impôs!
- O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente? Não dormes o suficiente?
- Não é isso, Capitão. É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.
- E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de infectar alguém que não tem condições de aguentar a doença?
- Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.
- Pode ser, mas e se não foi inventada?
- Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me privaram de algo.
- E tu te privas ainda mais de algo.
- Está de brincadeira, comigo?
- De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.
- Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu devo privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?
- Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.
- E o que foi que tiveste de te privar?
- Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia.

No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente. Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo. Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.

O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres. Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento. Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.
O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte. Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.

Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.

- Como acabou, Capitão?
- Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.
- Privaram vocês da primavera, então?
- Sim, naquele ano me privaram da primavera e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.


quinta-feira, 2 de abril de 2020

PROPÓSITO DE VIDA


PROPÓSITO DE VIDA


Todos tem um propósito de vida... um dom singular, um talento único para dar aos outros. E quando misturamos esse talento singular com os benefícios aos outros, experimentamos o êxtase da exultação de nosso próprio espírito  --  entre todos os supremo objetivo.

“Quando você está trabalhando, o passar das horas, deve soar como música extraída de uma flauta. E o que é trabalhar com amor?  É como tecer uma roupa com fios que vêm do coração como se fosse o seu bem amado a usá-la.” Kalil Gibran – O Profeta.

“ (...)  Segundo a Lei do Darma assumimos uma forma física para cumprir um propósito de vida. O campo da Espiritualidade pura é a divindade em Essência.

De acordo com esta lei, você tem um talento singular e uma única maneira de expressa-lo. Existe uma coisa que você é capaz de fazer melhor do que todo mundo. E, para cada talento singular, em sua forma única de expressar, existem necessidades específicas. Quando estas necessidades se combinam com a expressão criativa de seu talento, surge a fagulha que cria a riqueza.

Se você transmitir este pensamento às crianças, poderá ver os seus efeitos. Fiz isto com meus filhos. De vez em quando, eu falava que havia uma razão para eles estarem aqui e que cada um teria de descobrir por is mesmo que razão era essa. Desde os quatro anos de idade, eles ouviram isso. 

Também ensinei-lhes a meditar quando tinham mais ou menos a mesma idade. Eu lhes dizia sempre: “Não quero que se preocupem em ganhar muito dinheiro. Não quero que o objetivo de suas vidas seja ser um sucesso, mas quero que se perguntem como poderão descobrir seu talento e servir à humanidade, pois cada um de vocês tem um talento único que ninguém mais tem. E cada um tem uma forma de expressar esse talento que ninguém mais tem.” O resultado é que eles acabaram indo para as melhores faculdades e são únicos naquilo que os torna economicamente auto-suficientes, porque estão concentrados no que vieram fazer aqui. É essa, portanto, a lei do darma.

A lei do darma apresenta três componentes. O primeiro é o de que estamos aqui, para encontrar nosso verdadeiro Eu, para descobrir que nosso verdadeiro Eu é espiritual, que somos essencialmente seres espirituais expressos numa forma física. Não somos seres humanos que de vez em quanto têm experiências espirituais. Ao contrário, somos seres espirituais que de vez em quando têm experiências humanas.

Estamos aqui para descobrir nosso Eu Superior, ou Espiritual. Precisamos descobrir por nós mesmos que temos em nosso interior um embrião de deus ou deusa desejoso de nascer e de expressar sua divindade.

O segundo componente é o de que devemos expressar nosso talento singular. A lei do Darma diz que todo ser humano tem um talento único. Ou seja, você tem um talento só seu. Ele é único em sua expressão e tão específico que ninguém mais em todo o planeta tem igual, ou maneira parecida de expressá-lo. Isso significa que há uma coisa que você pode fazer e de um jeito melhor do que qualquer outra pessoa sobre a terra. Quando você está fazendo essa coisa, perde a noção de tempo. E quando está expressando esse talento único – muita gente tem mais de um --, você penetra na consciência atemporal.

O terceiro componente é o de que devemos servir à humanidade. Para isso, devemos fazer as seguintes perguntas: “Como posso ajudar? Como posso ajudar a todos com quem tenho contato?”
Quando você combina a capacidade de expressar seu talento único com benefícios à humanidade, está fazendo pleno uso da lei do darma. Agindo assim, e somando a experiência de sua própria espiritualidade, o campo da potencialidade pura, não há meios de você não ter acesso à abundância ilimitada, porque essa é a verdadeira forma de se obter abundância.

E não se trata de um abundância passageira. Ela é permanente por causa de seu talento único, de sua maneira específica de expressá-lo, dos benefícios e dedicação a seus semelhantes, que descobriu ao se perguntar: “Como posso ajudar?”, em vez de “O que vou ganhar com isso?”

A pergunta “O que vou ganhar com isso?” é o diálogo interior do ego. A pergunta “Como ajudar?” é o diálogo interior do espírito. O espírito é aquele domínio de nossa consciência em que experimentamos nossa universalidade.

Ao mudar seu diálogo interior – de “O que vou ganhar com isso?” para “Como posso ajudar?” --, automaticamente você está indo além do ego e entrando no domínio do espírito. Embora a meditação seja o melhor caminho para entrar no domínio do espírito, a mudança de seu diálogo interior para “Como posso ajudar?” também dará acesso a ele, ao domínio da consciência onde você experimenta a sua universalidade.

Se você quiser fazer uso pleno da lei do darma, terá de assumir alguns compromissos.
O primeiro é o de procurar seu Eu superior, que está além do ego. Isso você consegue por meio de práticas espirituais.

O segundo é o de descobrir seus talentos únicos. E, ao encontrá-los, alegrar-se, porque o processo do prazer ocorre quando se entra na consciência atemporal. É quando estamos em estado de graça.
O terceiro compromisso é o de se perguntar como poderá servir melhor à humanidade. Você deve simplesmente dizer: “Vou responder a essa pergunta e depois colocar a resposta em prática. Vou usar meus talentos únicos para suprir as necessidades de meus semelhantes. Vou combinar essas necessidades com meu desejo de ajudar e servir aos outros.”

E, depois, sentar e elaborar uma lista de respostas a essas duas questões. Pergunte-se, quando o dinheiro não é problema e se você tem todo o tempo do mundo, o que faria. Se responder que continuaria o que faz hoje, então, já está em seu darma, porque tem paixão pelo que faz e está expressando seus talentos singulares. Em seguida, pergunte-se como servir melhor à humanidade. Responda à pergunta e coloque em prática sua resposta.

Descubra a sua divindade, encontre seu talento único, use-o para servir à humanidade e você gerará toda a riqueza que quiser. Quando sua expressão criativa combina-se com as necessidades de seus semelhantes, a riqueza flui espontaneamente do não-manifesto ao manifesto, do reino do espírito ao mundo da forma física.

Você passa a experimentar sua vida como uma expressão milagrosa da divindade. Não só de vez em quando, mas o tempo todo. E você vai conhecer a verdadeira alegria e o verdadeiro significado do sucesso – o êxtase e a exultação de seu próprio espírito.